"A multidão comprimia Jesus de modo que o clamor do cego não
era ouvido e a visão do cobrador de impostos impedida de alcançar o mestre
Jesus.
Para piorar a situação do cego, alguém o manda calar a boca,
pois o mestre não o ouviria. No entanto, cada vez mais alto ele clamava:
“Jesus, filho de Davi, tem compaixão de mim”.
O cobrador de impostos sobe em um pé de figueira, por ser de
pequena estatura.
O cego precisa ser ouvido por Jesus.
O cobrador precisa ouvir Jesus.
O primeiro está à beira do caminho.
O segundo em cima de uma árvore também no caminho.
Jesus passa pelo caminho.
O clamor é ouvido.
Zaqueu é visto.
Ao cego Jesus pergunta: “O que queres que eu te faça?”.
Para Zaqueu Ele diz: “Hoje me convém pousar em sua casa.”.
O cego tinha um problema no corpo e queria a cura.
Zaqueu tinha um problema na alma e também queria a cura.
O cego queria ver o mundo colorido, vivo.
Zaqueu precisava ser vivificado para ver as cores de um novo
amanhecer.
Jesus cura os dois.
A necessidade considerada deficiência que o cego possuía o
impossibilitava de ter uma vida social, pois na época sua deficiência
representava incapacidade de trabalho.
A necessidade que Zaqueu possuía também o impossibilitava de
vida social, mas não o colocava como incapacitado para o trabalho – cobradores
de impostos não eram bem vistos pela sociedade.
Jesus cura o corpo do cego e a alma de Zaqueu.
Estar à margem da sociedade é uma bagagem pesada para se
carregar. Ele havia convivido com essa bagagem por toda sua vida até aquele
momento.
Zaqueu, quem sabe, não era bem-visto pela maioria das pessoas
que o conheciam – imagine a cena de homens assentados em uma roda, conversando
sobre as últimas noticias do dia, e quando Zaqueu se achega para a roda é
surpreendido com a saída de todos – ele não era bem-vindo às festas, aos bares,
ao templo, etc.
Jesus realizou mais que curas: Ele deu dignidade aos dois.
Os presídios estão lotados de pessoas que querem uma nova
chance na sociedade hodierna. Pessoas que mataram, roubaram, traficaram etc.
Esses querem não apenas ser libertos das grades de ferro, mas buscam dignidade
de vida. Eles querem andar pelas ruas como se nunca tivessem cometido
barbáries, precisam ser aceitos em empregos, querem constituir família. Como
Zaqueu, eles querem um encontro com alguém que os possa ajudar.
Casas de recuperação de dependentes químicos trabalham para
reabilitação daqueles que tiveram suas vidas roubadas pelas drogas –
abandonaram família, emprego, casa –, caíram em desgraça de vida, muitos
passaram a morar nas ruas, debaixo de pontes, pedindo esmolas nos sinais de
trânsito, nas rodoviárias – todos à beira do caminho como o cego.
Se traçarmos um paralelo entre o caminho de Jericó e a
sociedade moderna, o que encontraríamos? Uma multidão cansada de caminhar com
suas bagagens pesadas, trazendo todo tipo de problemas que traumatizam,
acrescentando sofrimento a cada dia, ou
teríamos uma multidão que já não tem mais solidão porque tem computadores, não
sente mais dores, pois tem os magníficos analgésicos, não sofre de insônia,
pois tem eficientes soníferos, não há mais assassinatos, pois todos respeitam a vida, têm o que comer, vestir, beber e condições de ter casa própria e boas
condições de infraestrutura urbanística e social.
Evoluímos tecnologicamente falando, mas ainda somos incapazes
de fazer o que só Jesus fez: “apagar as dores de um passado ruim, fazer um novo
presente e dignificar para um futuro próspero”.
Durante um ministério de três anos, Jesus operou muitas curas
milagrosas e se deparou com muitos cansados e sobrecarregados – pessoas que
precisavam mais do que saúde para o corpo, precisavam de saúde para a alma,
precisavam de paz, segurança, confiança, esperança, dignidade e fé.
O ministério do Cristo era tríplice: Ele curava, pregava e
ensinava.
As curas aconteciam por um toque no enfermo, ou por uma
palavra proferida, ou por uma ação totalmente inusitada, como passar saliva no
olho de um cego.
As pregações tinham um teor muito forte para os mestres da
época, pois Jesus denunciava o pecado e exigia arrependimento. Ele conseguia
reunir multidões à sua volta e também afastá-las.
Os ensinamentos do Cristo se concentravam em salvar a alma do
homem, conduzindo-o a um novo padrão de vida.
Dentre todas as pregações e ensinamentos de Jesus, talvez
nenhum falou tão forte ao povo daquela época e em todas as épocas como quando
Ele disse: “Vinde a mim todos vós que
estais cansados e sobrecarregados e eu vos aliviarei; tomai sobre vós o meu jugo
e aprendei de mim que sou manço e humilde de coração e encontrarei descanso
para as vossas almas, porque meu fardo é leve e meu jugo é suave” – Mateus
11:28-30.
É interessante o fato de o mestre divino pontuar sobre dois
tipos de fardos e jugo.
Um é o fardo que adquirimos através do tempo em nossas
experiências de vida, muitas boas e outras ruins. Trilhamos a vida com esses
fardos. Na verdade, o fardo não pesa no ombro e, sim, na memória.
O jugo é o padrão imposto sobre nossas vidas que nos faz
andar apenas para uma direção. Somos forçados a caminhar caminhos que não
gostamos. Não temos um norte, levados pelas situações que nos afligem, tendemos
a nos entregar ao que muitos chamam de destino.
No entanto, o convite de Jesus não significa deixar o fardo e
abandonar o jugo, pelo contrário, pois, Ele mesmo disse: “Tomai sobre vós o meu
jugo e o meu fardo”. Isso significa que o Evangelho proclamado pelo Cristo não
envolve apenas uma situação do presente do homem, mas de toda a sua história de
vida – o que é que cada um de nós veio trazendo de longa jornada em nossos
ombros. A ação do Evangelho está atrelada ao bem-estar de nossas lembranças do
passado.
Jesus não propõe apagar o passado ruim das pessoas, mas tirar
a dor que ele causa.
O jugo significa que Cristo deseja que tenhamos um padrão
correto para nossas vidas, que produzamos frutos de arrependimento – a direção
deve ser mudada e o desejo de fazer o que é correto deve inflamar os corações.
Tente imaginar a graça de Deus como um grande divã descido
dos céus.
O psicólogo Jesus se assenta para ouvi-lo.
Você só precisa aceitar o convite.
Então, Ele passa a ouvi-lo por horas, dias, meses, anos,
décadas.
Uma mistura de sentimentos toma conta do ambiente – você
chora, sorri, fica com raiva, tem ânimo, sente-se a pior pessoa do mundo, etc.
O mais intrigante é que você não faz tudo isso sozinho.
Enquanto você chorava, o psicólogo tirou do bolso um lenço com o qual passou a
enxugar a própria face – Ele chorou também.
Quando, em gargalhadas, Ele segurou forte sua mão sem se
conter em sua cadeira de trabalho, Ele se segurava para não saltar de alegria –
Ele sorriu com você.
No momento em que a raiva apoderou-se de seu humor, Ele
brigou por você, mostrou-se consternado pela sua decepção – Ele tomou suas
dores.
Assim que você passou a se sentir a pior pessoa do mundo, Ele
fez questão de lembrar você de sua palavra: “O Senhor levanta o necessitado do
monturo e o faz estar assentado com os príncipes”.
Mais que qualquer outra pessoa, Ele deseja te ver bem, por
isso escolheu o melhor lugar para morar: o seu coração."
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