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LIVRES DA DOR DO PASSADO

"Presos a um passado ruim pessoas deixaram de viver o presente por causa de sentimentos de culpa, decepções amorosas, financeiras, familiares e sociais. Estão presas a dores do passado e não conseguem se libertar, precisam de ajuda. Clamam por vida e libertação".

"Vários tratamentos terapêuticos e psicoterápicos surgem com o propósito de tornar a vida das pessoas melhor.
Cientistas desenvolvem pesquisas a cada dia a fim de encontrarem curas para doenças que dizimam, todos os dias, milhares de pessoas pelo mundo. Em alguns casos a cura é descoberta; em outros, um tratamento surge. Porém, para algumas doenças a luta continua para se encontrar um tratamento eficaz que cure ou que, ao menos, seja capaz de minimizar sofrimentos em caso de morte. Dentre os males que afetam a humanidade encontramos os males da alma.
Vivemos o século da depressão. As clínicas psicológicas e psiquiátricas são muito procuradas por pessoas que buscam um tratamento que as liberte desse mal. Para alguns casos, tratados como doenças, os médicos psiquiatras receitam o uso de remédios ansiolíticos; em outros casos, considerados problemas psicológicos causados por traumas e estresses de vida, os psicólogos propõem acompanhamento em consultas frequentes.
Presos a um passado ruim, pessoas deixaram de viver para se agredir com sentimentos de culpa, decepções amorosas, crises financeiras, estupros, agressões físicas, roubos, assassinatos, abandono, drogas, a perda de um ente querido, etc. – problemas do presente e do passado.
O tratamento relacionado a traumas do passado parece ser o mais complicado, pois não temos uma máquina do tempo pela qual poderíamos voltar e remediar ou evitar certos acontecimentos. Apesar de alguns profissionais oferecerem tratamentos que envolvem regressões, não se sabe com precisão sobre a eficácia desses tratamentos. De modo que algumas pessoas sofrem com problemas que surgiram no passado e vêm trazendo-os como se fossem bagagens para longa viagem.
Em algum momento o peso dessas bagagens se multiplica e faz com que muitos parem pelo caminho, a vida para.
O grande escritor americano Eugene O`Neill, após sua morte, foi homenageado com o prêmio Pulitzer Prize of Drama (o prêmio Pulitzer), em 1957,  por sua obra “Long Day’s Journey into Night” (Longa jornada noite adentro).
A peça apresenta uma família em crise por causa de um passado traumático e um presente fadado ao fracasso. Na peça, a família esconde culpa, ressente-se, lamenta, acusa, arrepende-se, vive um ciclo crescente de crises – uma mãe viciada em morfina, pai e filhos alcoólatras, um dos filhos é tuberculoso. Um cenário que apresenta o exemplo de como uma família jamais deve ser.
A dependência que a mãe tinha de morfina vai sendo revelada pouco a pouco durante a peça. As tosses de Edmund, filho mais novo, progressivamente indicavam uma doença grave, tuberculose. O pai alcoólatra cobrava dos filhos responsabilidade com a vida. Porém, ele cobrava dos filhos uma postura não ensinada e foi acusado de ter negado dinheiro para que a esposa fizesse um bom tratamento quando teve problemas de saúde após um parto. O motivo de ela ter se tornado dependente de morfina seria esse.
Uma ponte entre o passado e o presente ligava a família aos traumas que segundo eles era a causa de viver desgraçadamente no presente.
Acredita-se que o maior campo de batalha onde uma pessoa possa estar é a mente humana. Muitos são os conflitos internos que levam pessoas a estarem doentes e tristes e, em alguns casos, até mesmo a cometerem suicídio.
Alguns querem ser curados de males que cometeram; outros, de males que sofreram.
Se houvesse um meio de voltar ao passado pessoalmente, muitos disputariam para ser os primeiros – teriam a oportunidade de converter em bem o mal que foi feito, salvariam a vida de quem foi morto, pediriam perdão para quem já morreu, não trairiam a quem amavam, não roubariam, não maltratariam a quem quis apenas ajudar, etc. As oportunidades seriam muitas para que o presente fosse melhor. No entanto, como já foi dito, aliviar bagagens do passado não é um trabalho fácil.
Adam Sandler, ator e comediante americano, representa o senhor Newman no filme Click, em 2006.
O filme apresenta um homem envolvido em problemas diversos no presente e que vive em função de conseguir uma promoção no trabalho. Em um dia qualquer ele teve o seu controle de TV estragado e decidiu comprar um controle universal. Para tanto, foi a uma loja onde encontra um inventor que lhe ofereceu um controle recém-inventado. O controle possuía a função mágica de fazer com que o seu possuidor viajasse para o futuro e retrocedesse ao passado, tendo a oportunidade de pausar os eventos, mudar os sons e cores de tudo o que estava à sua volta.
Ao avançar sua vida, ele descobriu uma série de situações que aconteceriam e que lhe causaram pavor. Ao retroceder, ele pôde analisar todos os porquês dos eventos no futuro.
O filme conquistou bilheterias milionárias por todo o mundo.
Um controle como esse daria a muitos a oportunidade de projetar o futuro com precisão e caso os planos para o futuro não dessem certo, poderiam voltar ao passado e alterar algo.
Mudar os sons de algum momento da vida no passado mudaria o presente de muitos que vivem traumas por palavras que os feriram. Corações que estão pesados por mágoas causadas por palavras que foram lançadas e não voltaram – amaldiçoados por pais, insultados por cônjuges, vaiados na escola, malditos pela sociedade – feridas que marcaram a alma.
As cores dos momentos que vivemos são importantes, pois dão vida a todos eles – uma tarde linda de verão em uma fazenda perderia o brilho do Sol por causa de um abuso, uma humilhação, e tudo ficaria sombrio, sem cor. 
Um belo jantar de Natal com a família, tudo colorido com vermelho, verde, dourado, a mesa posta, um jantar apetitoso, tudo seria marcado de cinza, se alguém recebesse a notícia de que um ente querido morreu naquele dia.
Uma discussão boba seria marcada de amarelo, pois acabaria com a simpatia que existia entre um casal. Uma vida policromática tornou-se monocromática. Desde então as brigas se tornaram cada vez mais agressivas ao ponto de conduzir o casal à separação.
Quantas cores seriam mudadas em sua vida e quantos sons apagados?
Um cego à beira do caminho clama: “Jesus, filho de Davi, tem compaixão de mim” – Lucas 18:35-43.
Um cobrador de impostos corre para ver Jesus – Lucas 19:1-10.
A multidão comprimia Jesus de modo que o clamor do cego não era ouvido e a visão do cobrador de impostos impedida de alcançar o mestre Jesus.
Para piorar a situação do cego, alguém o manda calar a boca, pois o mestre não o ouviria. No entanto, cada vez mais alto ele clamava: “Jesus, filho de Davi, tem compaixão de mim”.
O cobrador de impostos sobe em um pé de figueira, por ser de pequena estatura.
O cego precisa ser ouvido por Jesus.
O cobrador precisa ouvir Jesus.
O primeiro está à beira do caminho.
O segundo em cima de uma árvore também no caminho.
Jesus passa pelo caminho.
O clamor é ouvido.
Zaqueu é visto.
Ao cego Jesus pergunta: “O que queres que eu te faça?”.
Para Zaqueu Ele diz: “Hoje me convém pousar em sua casa.”.
O cego tinha um problema no corpo e queria a cura.
Zaqueu tinha um problema na alma e também queria a cura.
O cego queria ver o mundo colorido, vivo.
Zaqueu precisava ser vivificado para ver as cores de um novo amanhecer.
Jesus cura os dois.
A necessidade considerada deficiência que o cego possuía o impossibilitava de ter uma vida social, pois na época sua deficiência representava incapacidade de trabalho.
A necessidade que Zaqueu possuía também o impossibilitava de vida social, mas não o colocava como incapacitado para o trabalho – cobradores de impostos não eram bem vistos pela sociedade.
Jesus cura o corpo do cego e a alma de Zaqueu.
Estar à margem da sociedade é uma bagagem pesada para se carregar. Ele havia convivido com essa bagagem por toda sua vida até aquele momento.
Zaqueu, quem sabe, não era bem-visto pela maioria das pessoas que o conheciam – imagine a cena de homens assentados em uma roda, conversando sobre as últimas noticias do dia, e quando Zaqueu se achega para a roda é surpreendido com a saída de todos – ele não era bem-vindo às festas, aos bares, ao templo, etc.
Jesus realizou mais que curas: Ele deu dignidade aos dois.
Os presídios estão lotados de pessoas que querem uma nova chance na sociedade hodierna. Pessoas que mataram, roubaram, traficaram etc. Esses querem não apenas ser libertos das grades de ferro, mas buscam dignidade de vida. Eles querem andar pelas ruas como se nunca tivessem cometido barbáries, precisam ser aceitos em empregos, querem constituir família. Como Zaqueu, eles querem um encontro com alguém que os possa ajudar.
Casas de recuperação de dependentes químicos trabalham para reabilitação daqueles que tiveram suas vidas roubadas pelas drogas – abandonaram família, emprego, casa –, caíram em desgraça de vida, muitos passaram a morar nas ruas, debaixo de pontes, pedindo esmolas nos sinais de trânsito, nas rodoviárias – todos à beira do caminho como o cego.
Se traçarmos um paralelo entre o caminho de Jericó e a sociedade moderna, o que encontraríamos? Uma multidão cansada de caminhar com suas bagagens pesadas, trazendo todo tipo de problemas que traumatizam, acrescentado [R1]  sofrimento a cada dia, ou teríamos uma multidão que já não tem mais solidão porque tem computadores, não sente mais dores, pois tem os magníficos analgésicos, não sofre de insônia, pois tem eficientes soníferos, não há mais assassinatos, pois todos têm boa educação, têm o que comer, vestir, beber e condições de ter casa própria e boas condições de infraestrutura urbanística e social.
Evoluímos tecnologicamente falando, mas ainda somos incapazes de fazer o que só Jesus fez: “apagar as dores de um passado ruim, fazer um novo presente e dignificar para um futuro próspero”.
Durante um ministério de três anos, Jesus operou muitas curas milagrosas e se deparou com muitos cansados e sobrecarregados – pessoas que precisavam mais do que saúde para o corpo, precisavam de saúde para a alma, precisavam de paz, segurança, confiança, esperança, dignidade e fé.
O ministério do Cristo era tríplice: Ele curava, pregava e ensinava.
As curas aconteciam por um toque no enfermo, ou por uma palavra proferida, ou por uma ação totalmente inusitada, como passar saliva no olho de um cego.
As pregações tinham um teor muito forte para os mestres da época, pois Jesus denunciava o pecado e exigia arrependimento. Ele conseguia reunir multidões à sua volta e também afastá-las.
Os ensinamentos do Cristo se concentravam em salvar a alma do homem, conduzindo-o a um novo padrão de vida.
Dentre todas as pregações e ensinamentos de Jesus, talvez nenhum falou tão forte ao povo daquela época e em todas as épocas como quando Ele disse: “Vinde a mim todos vós que estais cansados e sobrecarregados e eu vos aliviarei; tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim que sou manco e humilde de coração e encontrarei descanso para as vossas almas, porque meu fardo é leve e meu jugo é suave” – Mateus 11:28-30.
É interessante o fato de o mestre divino pontuar sobre dois tipos de fardos e jugo.
Um é o fardo que adquirimos através do tempo em nossas experiências de vida, muitas boas e outras ruins. Trilhamos a vida com esses fardos. Na verdade, o fardo não pesa no ombro e, sim, na memória.
O jugo é o padrão imposto sobre nossas vidas que nos faz andar apenas para uma direção. Somos forçados a caminhar caminhos que não gostamos. Não temos um norte, levados pelas situações que nos afligem, tendemos a nos entregar ao que muitos chamam de destino.
No entanto, o convite de Jesus não significa deixar o fardo e abandonar o jugo, pelo contrário, pois, Ele mesmo disse: “Tomai sobre vós o meu jugo e o meu fardo”. Isso significa que o Evangelho proclamado pelo Cristo não envolve apenas uma situação do presente do homem, mas de toda a sua história de vida – o que é que cada um de nós veio trazendo de longa jornada em nossos ombros. A ação do Evangelho está atrelada ao bem-estar de nossas lembranças do passado.
Jesus não propõe apagar o passado ruim das pessoas, mas tirar a dor que ele causa.
O jugo significa que Cristo deseja que tenhamos um padrão correto para nossas vidas, que produzamos frutos de arrependimento – a direção deve ser mudada e o desejo de fazer o que é correto deve inflamar os corações.
Tente imaginar a graça de Deus como um grande divã descido dos céus.
O psicólogo Jesus se assenta para ouvi-lo.
Você só precisa aceitar o convite.
Então, Ele passa a ouvi-lo por horas, dias, meses, anos, décadas.
Uma mistura de sentimentos toma conta do ambiente – você chora, sorri, fica com raiva, tem ânimo, sente-se a pior pessoa do mundo, etc.
O mais intrigante é que você não faz tudo isso sozinho. Enquanto você chorava, o psicólogo tirou do bolso um lenço com o qual passou a enxugar a própria face – Ele chorou também.
Quando, em gargalhadas, Ele segurou forte sua mão sem se conter em sua cadeira de trabalho, Ele se segurava para não saltar de alegria – Ele sorriu com você.
No momento em que a raiva apoderou-se de seu humor, Ele brigou por você, mostrou-se consternado pela sua decepção – Ele tomou suas dores.
Assim que você passou a se sentir a pior pessoa do mundo, Ele fez questão de lembrar você de sua palavra: “O Senhor levanta o necessitado do monturo e o faz estar assentado com os príncipes”.
Mais que qualquer outra pessoa, Ele deseja te ver bem, por isso escolheu o melhor lugar para morar: o seu coração".


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