"Quem se ocupa demasiadamente em perseguir, reprimir, a quem quer que seja, está perseguindo e reprimindo a si próprio".
Texto por Elias Vergara (sacerdote anglicano, psicanalista e mestrando em Ciências da Religião - UCG/Goiânia)
“Fico profundamente triste quando usamos a Bíblia para fundamentar
nossos pecados e pré-conceitos. Já vi muita coisa sendo dita e escrita a favor
e contra os homossexuais. Quando nos preocupamos demasiadamente com qualquer
coisa, isso começa a demonstrar um comportamento neurótico. Ou estamos tentando
esconder algo, ou nosso inconsciente está justamente nos forçando a colocar
aquilo que está mal elaborado em nós para fora.
Aquilo que me incomoda demasiadamente em outra pessoa é meu".
Essa é uma afirmação clássica na psicanálise. Cuidado! Quem se ocupa
demasiadamente em perseguir, reprimir, a quem quer que seja, está perseguindo e
reprimindo a si próprio. Tem algo lá dentro de si que está mal resolvido em
relação àquilo que tanto nos incomoda.
Posso afirmar que, em alguma medida, todos nós temos um gay com
quem nos relacionamos, e ele está dentro de nós. Ou nós o assumimos, ou nós o
rejeitamos, ou nós convivemos numa boa, sem que ele nos transtorne. O ser gay é
algo que está dentro de nós e não algo que possamos simplesmente dizimar da
face da terra. Muita gente na História da humanidade elegeu minorias para serem
dizimadas: os judeus, os índios, os negros, as mulheres e, agora, os gays.
Há muito pouco tempo, fazia-se a mesma discussão sobre a
possibilidade de as mulheres serem sacerdotisas e bispas na Igreja Anglicana.
Muita gente foi a favor; muita gente, contra, e ambos os lados se utilizavam da
Bíblia para sustentar suas teses. Hoje, algumas décadas passadas, rimos às
gargalhadas daqueles tempos e daquela discussão, que nada mais evidenciava do
que o momento histórico em que os homens estavam perdendo para as mulheres sua
hegemonia no poder (na Igreja e fora dela). Era o preconceito e o pecado
buscando legitimidade bíblica.
Quem fica catando, aqui e ali, versos bíblicos para justificar
suas posições preconceituosas, está com dificuldade de entender aquilo que
Jesus tanto insistiu em todo o seu ministério: amar ao próximo, como a si
mesmo. Nisso, disse Jesus, resume-se toda a Lei.
Para mim, é esta a questão central: não estamos preparados para
amar os gays, pois eles ameaçam a nossa masculinidade, ou a nossa feminilidade.
E se o ser macho ou fêmea está sendo ameaçado, é porque essas categorias nunca
foram assim tão cristalinamente definidas. Quando alguém se assume gay, isso
perturba a sociedade e seus membros individualmente. Por que a perturbação? Se estamos
firmes nas categorias masculinas e femininas que culturalmente definimos, não
há com que se preocupar!
Trabalhar com o gay que existe dentro de cada um de nós é um
esforço muito mais positivo do que querer reprimi-lo fora de nós. Isso não
resolverá a nossa neurose sexual. Quando eu puder abrir mão de todo o meu
preconceito e abraçar um gay como um ser humano, então eu terei descoberto o
verdadeiro amor do qual Jesus tanto falou. E não nos esqueçamos de que todo
homossexual possui um pai e uma mãe. E se ele(a) fosse seu filho, será que sua
postura em relação a ele(a) seria a mesma? Pensemos nisso”.
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